terça-feira, 13 de abril de 2010

UM ESTUPRO A CADA ESQUINA

Em cada esquina um bar, em cada bar um menor de idade, em cada copo um drink de estupro moral a preceder a prostituição do corpo e da mente, eis o retrato deprimente dos descaminhos que vêm marcando a existência social de dezenas de crianças e adolescentes itapecuruenses. Não constitui segredo para ninguém, que a sociedade itapecuruense vem passando por um processo de marginalização constante, a proliferação do tráfico de entorpecentes está patente aos olhos das autoridades constituídas.

O alcoolismo é um carcoma que vem se espalhando no corpo social, e a ausência de políticas públicas eficientes no incentivo a práticas esportivas e culturais, são aspectos complementares que se harmonizam na construção gradual de um caminhar por sendas tortuosas que fazem os ilustres filhos mortos de nosso torrão natal se revirarem em seus túmulos envergonhados por ver as pedras miúdas de nossos caminhos manchadas pelo sangue inocente de nossas crianças.Pois, elas são as vítimas que mais sofrem na conjuntura deste quadro social degradante.

Poderemos alimentar expectativas de uma sociedade mais justa e igualitária, onde a cultura, a tecnologia e a ciência voltem a ser cultivados por nosso povo, quando as crianças de hoje se viciam em noia, maconha, álcool e se prostituem sem que nada de efetivo seja feito para aplacar essa tragédia?

O conselho tutelar de Itapecuru – Mirim, é um elefante branco presenteado às novas gerações por nossa própria postura de acomodação, não se vê em nenhuma festa a presença destes conselheiros, vemos sim adolescentes de 13, 14, 15 anos, abrilhantando as mesas dos Herodes que preparam o abatedouro de suas consciências miseráveis para a matança de nossos inocentes ao final das festas. Quem nunca ouvira relatos de adolescentes miseravelmente apelidadas de “PIRIGUETES”, que segundo relatos de alguns mantém relações sexuais com vários homens de uma só vez?

É esta a sociedade que estamos construindo? São estes os valores familiares que estamos transmitindo de forma velada ao continuarmos vivendo com a indiferença da língua trancafiada entre os dentes? Até quando? Talvez, e em Deus esperamos que não, até o dia em que este carcoma exale seu odor peculiar na sala de estar de nossos lares, entre a Bíblia aberta quem ninguém lê e o crucifixo diante do qual ninguém se persigna! Por que as autoridades policiais e o judiciário não investigam e desmantelam essa quadrilha de tráfico de drogas que se implantou em Itapecuru – Mirim?

Ouve-se pelas ruas itapecuruense da existência de dezenas de bocas de fumo só na sede de nossa cidade, ouve-se de patrimônios espúrios que se revelam em toda a envergadura de sua grandeza da noite pro dia e por que esses pontos de tráfico de drogas não são destruídos? Existem interesses financeiros de pessoas revestidas de autoridade ou poder econômico na manutenção desta realidade? É o que dá a entender. Pois, sabe-se onde o tráfico é feito, por que não se toma uma atitude, atitude para o qual foi-se eleito ou com a qual assumiu-se o compromisso ao tomar posse de um cargo público?

Se as autoridades locais não têm condições de fazer a higienização da ameaça das drogas e da prostituição, por que a Polícia Federal, as forças armadas brasileiras, a ABIN, o FBI, a INTERPOL, a OTAN, as forças militares da ONU, MIB- homens de preto, o ogro Shrek, o Padre Quevedo, o Bispo Macedo, Bita do Barão, Inri Christi, Irmãos Coragem, Charles Bronson, Chuck Norris, Van Dame, Jet Li, Steven Seagal, Rambo, O Exterminador do Futuro, a Mulher Maravilha, o Superman, as Meninas super poderosas, Batman, Rita Kadilac, Tiazinha, Pit Bicha e Pit Bitoca, ou os extraterrestres de Steven Spielberg não são mobilizados?

...E a prostituição grassa em solo itapecuruense com o respectivo reflexo na saúde pública, manifesto na contaminação de adolescentes com o vírus HIV, com a gravidez de dezenas de adolescentes sem a mínima estrutura psicológica e financeira de arcar com a responsabilidade imensa da maternidade. Não é fácil para mim que me orgulho de ser itapecuruense expor de forma nua e crua essa realidade, mas é algo necessário pois, meu amor por minha terra não me permite contemplar calado seu caminhar intimorato para os círculos dantescos deste inferno social chamado drogas e prostituição.

O conselho de segurança do município de Itapecuru – Mirim recentemente empossado pelo secretário de segurança do estado tem muito trabalho a realizar, esperamos que não seja mais uma iniciativa nobre e elevada que termine como as CPIs de Brasília que famigeradamente acabam em pizza.

UM ESTUPRO A CADA ESQUINA

Em cada esquina um bar, em cada bar um menor de idade, em cada copo um drink de estupro moral a preceder a prostituição do corpo e da mente, eis o retrato deprimente dos descaminhos que vêm marcando a existência social de dezenas de crianças e adolescentes itapecuruenses. Não constitui segredo para ninguém, que a sociedade itapecuruense vem passando por um processo de marginalização constante, a proliferação do tráfico de entorpecentes está patente aos olhos das autoridades constituídas.

O alcoolismo é um carcoma que vem se espalhando no corpo social, e a ausência de políticas públicas eficientes no incentivo a práticas esportivas e culturais, são aspectos complementares que se harmonizam na construção gradual de um caminhar por sendas tortuosas que fazem os ilustres filhos mortos de nosso torrão natal se revirarem em seus túmulos envergonhados por ver as pedras miúdas de nossos caminhos manchadas pelo sangue inocente de nossas crianças.Pois, elas são as vítimas que mais sofrem na conjuntura deste quadro social degradante.

Poderemos alimentar expectativas de uma sociedade mais justa e igualitária, onde a cultura, a tecnologia e a ciência voltem a ser cultivados por nosso povo, quando as crianças de hoje se viciam em noia, maconha, álcool e se prostituem sem que nada de efetivo seja feito para aplacar essa tragédia?

O conselho tutelar de Itapecuru – Mirim, é um elefante branco presenteado às novas gerações por nossa própria postura de acomodação, não se vê em nenhuma festa a presença destes conselheiros, vemos sim adolescentes de 13, 14, 15 anos, abrilhantando as mesas dos Herodes que preparam o abatedouro de suas consciências miseráveis para a matança de nossos inocentes ao final das festas. Quem nunca ouvira relatos de adolescentes miseravelmente apelidadas de “PIRIGUETES”, que segundo relatos de alguns mantém relações sexuais com vários homens de uma só vez?

É esta a sociedade que estamos construindo? São estes os valores familiares que estamos transmitindo de forma velada ao continuarmos vivendo com a indiferença da língua trancafiada entre os dentes? Até quando? Talvez, e em Deus esperamos que não, até o dia em que este carcoma exale seu odor peculiar na sala de estar de nossos lares, entre a Bíblia aberta quem ninguém lê e o crucifixo diante do qual ninguém se persigna! Por que as autoridades policiais e o judiciário não investigam e desmantelam essa quadrilha de tráfico de drogas que se implantou em Itapecuru – Mirim?

Ouve-se pelas ruas itapecuruense da existência de dezenas de bocas de fumo só na sede de nossa cidade, ouve-se de patrimônios espúrios que se revelam em toda a envergadura de sua grandeza da noite pro dia e por que esses pontos de tráfico de drogas não são destruídos? Existem interesses financeiros de pessoas revestidas de autoridade ou poder econômico na manutenção desta realidade? É o que dá a entender. Pois, sabe-se onde o tráfico é feito, por que não se toma uma atitude, atitude para o qual foi-se eleito ou com a qual assumiu-se o compromisso ao tomar posse de um cargo público?

Se as autoridades locais não têm condições de fazer a higienização da ameaça das drogas e da prostituição, por que a Polícia Federal, as forças armadas brasileiras, a ABIN, o FBI, a INTERPOL, a OTAN, as forças militares da ONU, MIB- homens de preto, o ogro Shrek, o Padre Quevedo, o Bispo Macedo, Bita do Barão, Inri Christi, Irmãos Coragem, Charles Bronson, Chuck Norris, Van Dame, Jet Li, Steven Seagal, Rambo, O Exterminador do Futuro, a Mulher Maravilha, o Superman, as Meninas super poderosas, Batman, Rita Kadilac, Tiazinha, Pit Bicha e Pit Bitoca, ou os extraterrestres de Steven Spielberg não são mobilizados?

...E a prostituição grassa em solo itapecuruense com o respectivo reflexo na saúde pública, manifesto na contaminação de adolescentes com o vírus HIV, com a gravidez de dezenas de adolescentes sem a mínima estrutura psicológica e financeira de arcar com a responsabilidade imensa da maternidade. Não é fácil para mim que me orgulho de ser itapecuruense expor de forma nua e crua essa realidade, mas é algo necessário pois, meu amor por minha terra não me permite contemplar calado seu caminhar intimorato para os círculos dantescos deste inferno social chamado drogas e prostituição.

O conselho de segurança do município de Itapecuru – Mirim recentemente empossado pelo secretário de segurança do estado tem muito trabalho a realizar, esperamos que não seja mais uma iniciativa nobre e elevada que termine como as CPIs de Brasília que famigeradamente acabam em pizza.

UM BALAIO DE OLHARES

Hoje é Segunda-Feira, dia da semana no qual a zona comercial de Itapecuru – Mirim recebe a tradicional Feira ao ar livre na qual as pessoas vão comprar de roupa e calçados a brinquedos por um preço mais acessível a suas condições financeiras, as faces se multiplicam com a vinda de centenas de itapecuruenses da zona rural, alguns para tentar fazer empréstimos, outros para consultar-se, transeunte em pleno processo de investigação existencial ando por ali, vou do canto do posto de táxi Nossa Senhora das Dores à Praça da Saudade disfarçando observar algo para comprar, fito olhares, observo palavras, banho-me de um sol causticante para tentar entender o outro, e assim compreenda a mim mesmo, teço das fibras da minha impressão um balaio de olhares, vejo dor, alegria, saudade, esperança, tento absorver o aprendizado da simplicidade da vida.

Mas que mensagem pode um olhar revelar? O que posso eu absorver ao tentar penetrar a mística deste balaio de olhares itapecuruenses? Quais os significados simbólicos e místicos que perpassam essa instância de manifestação das paixões da alma a olho nu? Segundo Chevalier e Gheerbrant(Dicionário de Símbolos,2009) “O olhar dirigido lentamente de baixo para cima é um signo ritual de benção nas tradições da África Negra. O olhar é carregado de todas as paixões da alma e é carregado de um poder mágico que lhe confere uma terrível eficácia. O olhar é o instrumento das ordens interiores: Ele mata, fascina, fulmina, seduz, assim como exprime.”

Os olhares que habitam as faces dos itapecuruenses trazem mais perguntas que respostas, trazem o prenúncio de um sorriso, esboçado quando do encontro casual de um conhecido ou parente, trazem também a semeadura de lágrimas entristecidas que se insinuam sem rolar pela face. A propósito das significações místicas que habitam o olhar Angelus Silesius afirmara que “a alma tem dois olhos; um olha para o tempo, o outro está voltado para a eternidade”. Segundo Chevalier e Gheerbrant, a mesma expressão olho da alma, do espírito ou do coração podem ser encontradas em Plotino, Santo Agostinho, São Paulo, São João Clímaco e São Gregório de Nazianzo, nestes dias nos quais o desemprego parece impregnar centenas de olhares itapecuruenses, o olho que se volta para o tempo parece entregar-se à desilusão de falsas promessas.

Se a alma itapecuruense acha-se com um dos olhos vazados pelas lanças da humana dor das mazelas sociais e do desemprego agravado pelas recentes demissões, só resta ao olho que se volta para a eternidade, na fé que move o maquinismo de tantos corações, continuar perpassando as existências com o horizonte de alguma esperança.

Enquanto centenas de mães e pais itapecuruenses choram a exoneração, a se perguntar como haverão de restituir o pão à mesa de seus filhos o balaio de olhares de uma segunda – feira revela o conteúdo que habita o seu interior e assim como em culturas indígenas abre-se os olhos das estátuas sagradas para vivificá-las, abre-se o balaio de olhares e uma visão profética parece insinuar-se.

Assim como se dizia e não se acreditava que o Rio Itapicuru haveria de se tornar um caminho de boiada, o pós-enchente de 2009 parece o prenuncio desta catástrofe ambiental, a cidade que é vivificada nos olhares de seus filhos, parece um CEMITÉRIO DE OSSOS SECOS, com direito a homens – gabirus, leilão subliminar de vaginas, prostituição infanto-juvenil e tráfico de drogas. Só resta aos deuses que carregam esse balaio de olhares nos ombros substituir o cemitério de ossos secos que nele germina pela semeadura da esperança de dias melhores, nós contritos ou evasivos, compenetrados ou revoltados, a Deus ou a Oxalá, havemos de ficar repetindo antes de dormir a prece de Hafiz de Chiraz(+ 1389) “É SOBRE O JOGO MÁGICO DO TEU OLHAR, QUE COLOCAMOS O FUNDAMENTO DE NOSSO SER”.

O OSSUÁRIO DA CULTURA ITAPECURUENSE

Um dos mais deprimentes quadros da vida cultural itapecuruense é o vergonhoso descaso das sucessivas gestões públicas municipais para com um dos mais importantes patrimônios históricos e arquitetônicos de Itapecuru – Mirim, a Casa da Cultura Profº João Silveira, cuja degradação paulatina e depredação silenciosa vem reduzindo-a a um cemitério de ossos secos e ao contrário de um projeto museológico que a modernizasse, o Ossuário da Cultura Itapecuruense constitui a maior vítima dos torturadores que insensíveis às coisas do espírito vergastam com o descaso e a indiferença esse prédio em particular e a cultura da terra de Gomes de Sousa de modo geral.

Mais revoltante que a depredação em si é ver a Escola de Música Joaquim Araújo sucateada no estertor da agonia derradeira, espremida em uma sala entre o mofo de livros de partitura corroídos pelas traças e a ferrugem dos velhos instrumentos. Perguntar onde se encontram as centenas de obras literárias que compunham uma rica biblioteca que o Ossuário da Cultura abrigava é uma interrogação vã, decerto não haverá de ser respondida, assim como o paradeiro das porcelanas e outros utensílios subtraídos...

...Se pela vil mão do peculato ou pela irresponsabilidade de seus gestores no transcurso dos últimos anos, saberá Deus ou o Diabo, o certo é que a cadeia velha onde o Negro Cosme esteve preso, não viu nos últimos anos por ocasião do Dia da Consciência Negra uma única manifestação relevante que envolvesse os afrodescendentes, sobretudo, das comunidades remanescentes de quilombos. É uma desgraça! Uma lástima! Como vem a ser as condições da Biblioteca Pública Municipal Benedito Bógea Buzar que não obstante os pedidos de reforma feitos pelos seus gestores – entre os quais eu fui o último – e de seu patrono ao prefeito municipal está às vésperas de desabar na corcunda dos usuários/funcionários.

Recebeu-se uma modernização do ministério da cultura em parceria com o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas e a mesma constituída por centenas de livros e dez computadores se encontram devidamente encaixados a propósito de que a construção das bancadas que deverão acomodá-los ainda não tiveram sua construção autorizada, correndo o risco iminente de voltar para o Rio de Janeiro, a despeito dos desmedidos esforços do Dr. Benedito Buzar para que Itapecuru – Mirim fosse agraciada com essa modernização. Boa parte do acervo existente fora perdido nos últimos anos pelas chuvas que milagrosamente transformam o prédio que outrora fora conhecido como Bateau Mouche em um barco furado... Alagado pela água que escorre do miserável forro...

Cenários kafkanianos? Não! Absurdos como estes são reais e fazem parte de um inferno de Dante chamado Itapecuru – Mirim cuja etimologia já fora até mudada pela obra e graça de honoráveis cidadãos itapecuruenses titulados por membros da câmara de vereadores e cuja importância para o desenvolvimento de nossa cidade é tão relevante quanto o de quem fizera suas indicações.

E quando se fala em Secretaria de Cultura ainda são aventados nomes cuja irresponsabilidade demonstrada em cargos ocupados se conjuga a incompetência profissional e intelectual, enfim, uma verdadeira desgraça e tal como a recomendação do médico a Manuel Bandeira no poema Pneumotorax, só resta aos verdadeiros artistas e intelectuais da terra “dançar um tango argentino”!

Queira Deus sendo brasileiro e, por conseguinte amigo dileto de Mariana Luz por intercessão de Nossa Senhora das Dores iluminar estas cabeças de coprólitos(fezes petrificadas de animais pré-históricos) pois estamos quase a consolarmo-nos com as maiores obras literárias de um grande poeta babão, a saber os versos de “irretocável beleza”: “Essa não tem mais jeito” e “Agora é taca”!

FIDES ET RATIO


De nada vale o andor suntuoso
quando o ídolo de bronze formoso
sustenta-se sobre pés de barro
enquanto a saliva da prece faz-se escarro
expelido por um devoto tísico
cujo Deus ignora o corpo físico.

De nada vale o positivismo implacável
ou a falácia da neutralidade inexorável.
A crença cega na famigerada infalibilidade
ignora que a verdade é a negação da verdade
e a suposta neutralidade distingue seres inanimados
de homens que só existem ideologicamente situados.

A fé constitui uma linha geodésica
tão fantasiosa quanto patética.
A razão é uma senhora puritana
que manipulada deita-se em qualquer cama
Fé e razão fazem-se damas impostoras
Quando da verdade absoluta se dizem portadoras.

ISCARIOTES

Um beijo na face, a aflição do emblemático gesto
anteriormente acordado entre Judas e o pregador.
De que adiantaria de Iscariotes o protesto,
se Deus impusera-lhe o estigma de traidor?

Fora feliz Danton quando sentenciou
"Somos fantoches manobrados por forças desconhecidas."
Por essas e outras Lúcifer se rebelou
e Prometeu roubando fogo, ressignificou a vida.

Do fogo de Prometeu o gérmem da tecnologia.
De Lúcifer a invenção do teatro, literatura e cinema.
Judas porém preferiu a deplorável certeza de que escrevia
o desfecho de uma história da qual seria anátema.

NOTURNO ITAPECURUENSE

A lua que se manifesta no céu itapecuruense
possui a anatomia de uma lira ausente
não é tecida de algodão doce ou de queijo
tem a forma de um soneto e o sabor de um beijo.

Lua estonteante como deslumbrante musa
estrelas inebriantes como um cálice de sedução
a lingerie da noite é a cidade desnuda
Tapuia Itapecuru, minha intraduzível paixão.

os ventos que sopram, os pássaros noturnos
se co-irmanam em fabricar devaneios
o aedo tange à lira, seu cancioneiro soturno
Mariana aos fantasmas murmura mil anseios.

As avenidas contemplam os ébrios trôpegos
que anelam pelo conforto de seus lares
recolhem-se todavia, às calçadas, sôfregos
empanturrados pela mística das mesas dos bares.

As avenidas contemplam procissões de devotos
São Benedito e a padroeira Nossa Senhora das Dores
cujo manto agasalha os marginalizados ignotos
que amiúde transportam os luxuosos andores.

Os cães ladram famintos, os gatos miam sedentos
co-irmanados em pesadelos acalantar.
Souzinha geometriza seus temores e tormentos
mesurando o cosmos, lê a mente de Jeová.

Vagam na órbita das águas, sem luar
fantasmas tapuias, errantes guerreiros.
No Morro do Diogo , o Piaga sacode o maracá
invocando os espíritos de outros feiticeiros.

Soerguem-se sombras de imemoriais tempos
dançando no largo da matriz seu pocaré
o maracá do Piaga altera o curso dos ventos
nas alcovas do PTA nasce mais uma Salomé.

Batom lascivo, habitando lábios cândidos
calcinha-guardiã do sexo voluptuoso
perfume tão barato quanto os cânticos
pornográficos e o vocabulário indecoroso

que por debaixo do escarlate dos lençóis declina
a meretriz-fantasma de um PTA há muito sepultado
até o Cônego Albino Campos confessor dessa menina
ao ouvi-la sentiu seu voto de castidade ameaçado.

Do vigário entretanto, não maculemos a piedade
ele do alto da matriz observa entristecido
os itapecuruenses que segundo ele, ignoram a verdade
na verdade reinventam o significado da vida.

As madrugadas itapecuruenses segredam fatos
despachos, orgias, tráfico e adultérios
pelos olhos das venezianas, fatos noturnos desvelados
durante o dia fofocados, já não são mistérios.
A aurora traz a labuta, fadiga do corpo e da mente
a musa deixa o aedo, cala-se o noturno itapecuruense.

O AEDO E A MUSA

O AEDO E A MUSA
Em seu célere corcel alado a musa cavalgava
enquanto os crisântemos do caminho se deleitavam
da mística que suas madeixas encerrava
ao vê-la passar os lírios solenes se prostravam.
Devota dos mistérios herméticos dizia
ser infalível o prognóstico oracular
e "homem algum neste mundo desposaria
a amazona que no corcel alado cavalgar".
Prosseguia imaculada a virgem mais cobiçada
a executar em sua harpa canções a Afrodite
solitária pintava à praia marinhas apaixonadas
e a noite se deleitava com a história de Nefertite.

Até que um aedo caminheiro de distantes terras
resolveu provisoriamente aquele reino habitar
de helênica beleza, parecendo vir de outras eras
o aedo entre donzelas tangia a sua lira a cantar.
Em sua carruagem fora a musa ao palacete
de em duque, seu tio, que enfermo agonizava.
Ao passar por uma alameda ouviu versos de Goethe
musicados pelo aedo que a lira executava.
Quando os olhares juvenis por segundos se tocaram
os prognósticos do oráculo feneceram de repente.
A musa e o aedo horas depois se deitaram
no tálamo de Eros e foram felizes para sempre.
O AEDO E O HEPTACÓRDIO
Reclinado sobre tulipas jazia o aedo
exaurido tinha o seu heptacórdio à mão
enquanto a primavera desabrochava um canto ledo
o aedo despetalado fenecia em solidão.
Por sucessivas noites pervagou insone
desceu às fossas abismais para aplacar o pranto
com as víceras da angústia saciou sua fome
o heptacórdio silencioso negou-lhe acalanto.
Notívagos seres habitaram-lhe o sono pesadelar
de seus poros a sudorese das trevas escorria
envolto com a melodia da mortalha tumular
estertorava o heptacórdio em sua última agonia.

Eclipsada a magia do luar e a alquimia das estrelas
nada ao heptacórdio o bucolismo devolvia.
Ausentes prados, lírios e nuvens caminheiras
nuvens de concreto e desertos a paisagem preenchia.
Porquanto passassem os dias, a decrepitude acentuava-se
aedo e heptacórdio declinavam ao gélido relento.
Das estâncias de Plutão o desfecho aproximava-se
manifestou-se o imprevisível no último momento.
Compadecidas daquele desaparecimento crepuscular
as tecelãs do tempo paralisaram a funesta tocata
devolvendo pela derradeira vez ao aedo o cantar
e ao heptacórdio a novidade na urdidura da sonata.
O AEDO E O OCTACÓRDIO
Gélido o aedo na colina jaz a murmurar
de sua sensibilidade faz-se ausente a melodia
sem a urdidura do canto ou a arte de cantar
aedo e octacórdio fenecem em agonia.
Silencioso o octacórdio lacrimeja ruídos
de suas cordas brota a partitura do nada
onomatopaica expressão dos sons obstruídos
que prognosticam ao aedo o fim da caminhada.
Outonos defloram o colorido primaveril
Murcham os jardins que revestem o álamo.
Em seus delírios o aedo na madrugada febril
copula com La Dama Muerte em hórrido tálamo.

Em um palácio de Veneza reúnem-se os cameristas
Para a execução de um oratório de Häendel esquecido.
Recorda-se o octacórdio dos virtuosos artistas
Que disputavam-lhe o canto, agora emudecido.
Ao aedo a juventude, quem poderá devolver?
Ao octacórdio o som, quem poderá restaurar?
Somente a fada madrinha da Floresta Negra do Ser.
Somente cultivando a fantasia haverão de perdurar.
Mas se a fada madrinha nas trevas perecer
o aedo sem sonhos mais um homem pragmático será
o octacórdio antiquado irá desaparecer
em beneficio de uma viola caipira e vulgar.

ULTIMA VISIO

Pelas estígicas praias do Lete, eu navegava.
Caronte o barqueiro espreitava meu silencio.
Compenetrado eu refletia sobre o rio que vi fenecer
Plutão me aguardava no reino dos mortos.
Eu rezava a Fobos que aplacasse meu medo
mas o pensamento não abandonava o rio morto.

[Despedaçado sem o viço de outrora
o rio verteu-se em cinzas, pólen de poluentes.
Cardumes que um dia foram corola
agora habitam o ossuário de afluentes.
Limbaram rio, vosso pescoço com um nó letal
degolaram cidade, vosso trunfo natural.

No cadafalso dos dias, teus filhos foram os verdugos
de vossa sangria paulatina, vil execução pública.
Choro por ti rio, porque vossa face translúcida
reinventava nereidas em minha lira pânica.
Choro por ti rio, porque vossa órbita fantástica
despia sereias virgens em minha canção agônica.]

Perguntou-me Caronte de meu agônico semblante
inquirindo dos motivos de tamanha amargura
meu silêncio falou-lhe de um rio devastado.
Rio Itapecuru em cujas margens sonhei
quixotescos sonhos de um infante imaginoso.
Rio Itapecuru em cujas margens enamorei
as sereias-meninas em pretéritos romances.

Avisto Cerberus às portas da casa dos mortos
Tentarei conquistar as curvas de Eurídice
mesmo não sendo Orpheu cortejarei a musa.
Mas quando minha lira executar sua ária derradeira
É no rio fenecido que minhas rimas sangrarão
as fúnebres rosas de um desfecho triste.
Se o meu alaúde não agradar a sublime musa
sepultarei por fim minha alma no Hades
próximo ao cemitério do Lete, onde dentre rios mortos
o ossuário de meu Itapecuru dormita pela eternidade.

O NASCIMENTO DO POEMA

Como se não bastassem as intempéries da existência, que desconsiderando a fragilidade humana nos lança contra as correntezas da angústia, correntezas que nos fazem caminhar sôfregos para o suspiro derradeiro; como se não bastasse o turbilhão de lágrimas que sucede as vergastadas do tempo; como se não bastasse toda a miseranda dor que passou a parasitar meu ser, fui surpreendido pelo absurdo mais histérico que o caos pode gestar e o surreal parir!

Eu caminhava incerto do chão abaixo de meus pés... Caminhava por caminhar, não caminhava meu espírito que se emaranhava no algodão de nuvens caminheiras, meu andar trôpego e mecânico fazia aqueles que me observavam passar, acreditar que estavam diante de um autômato, todavia, algo se movia convulsivamente dentro de mim! Algo hermético se descortinava, enquanto o meu espírito desnudo masturbava-se com a ilusão de algo grandioso que se avizinhava, apeguei-me às réstias de luz, irmanei-me aos grãos de esperança que habitavam as sarjetas dos sonhos natimortos.

O gosto amargo de um absinto exótico germinou em saliva, enquanto o hálito revestiu-se de fel, parturiente de um ser obscuro, meu esôfago exasperava-se querendo abortar o corpo inconsútil que pedia passagem. A BOCA! - Depositária do pedaço de carne que é perdição para todo o corpo - descerrando os portais dos lábios e as muralhas dos dentes, obstruiu o advento do nascituro que violentamente começou a desferir golpes de vocábulos sem nexo, contra a dentição que já sem o alvo esmalte que encerra sua beleza, começou a ruir... De repente como nas explosões inesperadas de um homem bomba, a muralha dos dentes desmoronou, sob os escombros da língua já prostituída pela sedução do nascituro que deflorou sua timidez e retraimento.

Restou a última barreira, os lábios, róseas bordas que emolduram a expressão sublime do sorriso, lábios que diuturnamente cortejavam tocar outros lábios revestidos de batom; batom que faz crer que o Diabo veste Prada e lingerie. Não sei se por telepatia a nascituro seduzia aquela musa que - Após olhares, onde o verde dos meus olhos e o castanho dos seus se envolveram - aproximando-se, beijou-me... Nuvens e nenúfares... Alegria e gozo...

Como se nos contos de fadas de repente eu fosse Cinderela, furtada de seus trajes à meia-noite, a musa me foi furtada em um átimo de segundo mágico, desapareceu sem deixar rastros que não fossem as lembranças daquele instante fantástico e maravilhoso...

Eu estava sozinho no escuro de uma madrugada de insônia. A Dama Angústia que por repetidas noites fazia-me companhia, exortou-me de ser um péssimo pai, que ignorava a existência do próprio filho que choramingava por atenção e elogio, voltei o meu melancólico olhar para as mãos que seguravam o mais perfeito rebento que a solidão criativa pode conceber! Filho de meu espírito e da misteriosa musa - O POEMA!

FLORAIS DE THÉO

MANDACARU

Áspero apetrecho da flora agreste
espinheiro que corteja o calcanhar do eremita.
Os profetas apocalípticos do Nordeste
recorreram a vós quando a secura era vertida.

Aos rebanhos esquálidos a ressurreição deste
quando feneciam nas gélidas pastagens carcomidas.
Em teu verde se traduzem nossa secura e peste
em teu metal traduz-se a abundância preterida.

Notivagueiam mariposas pelo teu caule cálice
a seiva da esperança em líquido é derramada
enquanto a ação de graças bovina chega ao ápice

A Canaã de ossos secos é por vós ornamentada.
Se nos chaga a carnadura o epidermóide carcinoma
os estigmas de Louro Febo te são non grata persona.
A FLOR DEFINITIVA
Flor definitiva do apocalipse anunciado
plúmbea tradução da ascese nuclear.
Oscula teu pedúnculo o urânio derramado
nesse androceu venal a cochonilha vêm gozar.

O metal da carnadura sob o concreto das nuvens
gineceu carcomido e sifilíticas sépalas.
Cálice da embriagues do outrora homo ludens
o heptacórdio do aedo ignora tuas pétalas.

Ornamento vindouro do álamo carbonizado.
Ensinai aos crisântemos a cor do pentecostes
aos girassóis o plutônio do khárisma anunciado

Preparai esses jardins narcísicos para a morte.
De que vale a virginal corola da rosa de Sarom
quando em vós revela-se a face do novo daimón?
O AUTO-ENGANO DA FLOR
Desabrocha a aurora, raios de luz espalhados
enquanto o aroma das manhãs perfuma os vinhedos
dançam borboletas em movimentos espiralados
o bosque orvalhado cantarola um canto ledo.

Vede a solitária flor de pétalas desbotadas
ela finge embebedar-se sorvendo o langor
colibris lhe evitam o pólen maculado
o cinza cemiterial constitui sua nova cor.

A flor no entanto ama a dois aedos
o sol que em fotossíntese lhe oscula
a lua com seu formato de queijo.

E se fingindo estar enferma muda sua textura
a flor que somente evita dos colibris o tálamo
ignora que os aedos enamoram todo o álamo.

O ANIVERSÁRIO DA CIDADE-MULHER

Como um aedo batizado nas águas serenas e voluptuosas do Rio Itapecuru poderia ver a cidade senão como mulher, toda curvas, batom e lingerie? Mulher que insistentemente o persegue por noites de insônia a procura de versos, ainda que pálidos e singelos que traduzam a sensualidade que faz morada em seu jovem corpo, centenário e tentador.

Existe uma particularidade que diferencia essa relação, é que enamorar essa cidade-mulher constitui um desafio que evoca um desprendimento total da paixão da alma que comumente assalta os sentimentos dos apaixonados: O ciúme. Quem deixar-se seduzir pela singularidade mágica das madeixas e curvas desta cidade-mulher, necessita habituar-se a difícil condição de ter que dividi-la com os outros que se deixaram igualmente agasalhar no refrigério e aconchego de seus braços e na ternura de seus abraços.

Viajor infatigável de reinos fantásticos o aedo retorna ao tálamo de Eros para novamente, dentre ósculos de apaixonante luxúria possuir sua musa maior, ainda que sabedor de que ela só será sua, pelos efêmeros instantes em que dela sua sensibilidade artística se ocupar... Deixemo-nos valsar na alameda de nuvens e nenúfares...

A Cidade-Mulher está nua e incrivelmente bela, traz a habitar-lhe a fronte uma coroa de crisântemos e à mão esquerda traz uma taça de vinho colhido das adagas de dionisíaca noite orgiástica. Já estamos inebriados quando os lábios da musa se descerram convidando-nos à consumação profana desse instante sagrado.

Contemplo a cintilação sideral de Julho que desaba trovejando um luar divino que desaparece na noturna voragem das tecelãs do tempo. O útero da Cidade-Mulher processa a fotossíntese de verdum que emoldura a aquarela natural das plagas itapecuruenses. A flora agreste com sua diversidade de pétalas e aromas oferenda em violáceas nuances, um buquê que faria Afrodite enciumada envelhecer com as rugas do fenecimento a todos os jardins do mundo.

Tendo à mão este humilde buquê tecido de sonhos, venho às margens do rio que te nomeia, felicitar-te Cidade-Mulher pelo advento de uma primavera mais florida. Traduzir de forma definitiva os sentimentos em relação a ti que meu coração acalanta, seria mentir publicamente, prefiro tanger a lira do talento que Deus ainda no materno ventre concedeu-me.

Concedeu-me imerecidamente, para cantar o teu povo religioso e mundano (apolíneo e dionisíaco); teu rio mágico e assoreado e tua história de Gomes de Sousa e Pãozinho, daqueles que em logradouros e outras póstumas homenagens são incrivelmente lembrados e dos que por ‘ilustres familiares’ foram injustamente esquecidos (Apolinário Fonseca, meu avô, Primeiro Sargento-Músico do Exército Brasileiro, Clarinetista de rara erudição musical).

Enxergo Itapecuru-Mirim para além de suas mazelas sociais e de seus provincianismos. Vejo-lhe mulher para de seus aspectos positivos nunca me afastar; vejo-lhe mulher para que no transcurso de cada aniversário possa ser-lhe mais fiel e apaixonadamente leal; Vejo-lhe mulher para que nesta primavera natalícia possa germinar a flor do desejo e ternura que cultivo como diria Carlos Drummond de Andrade, “Até desabrochar em puro grito/ de orgasmo num instante de infinito”. Parabéns Cidade-Mulher!

A MUSA ITAPECURUENSE

Como uma pérola de valor inestimável
no palheiro de um estábulo abandonado
encontrei a musa em uma noite desagradável
de insônia. Tomei-lhe a mão, Orpheu apaixonado,
resgatando sua Eurídice das estâncias de Plutão.
Mas, a musa ignorou-me, Orpheu desconsolado
espatifei a minha lira e fui dormir com a solidão.
Mística tapuia, a graciosa musa itapecuruense
com o nascer da aurora se transfigurava
em ave canora de um canto sublime, envolvente
que somente o crepúsculo do astro-rei silenciava.

A forma de mulher renascia com o arrebol
e a musa tapuia de penetrante olhar ardente
tomando as luzes estelares, tecia em caracol!
A musa como flor de beleza intraduzível
nos jardins suspensos da Babilônia
tinha nas pétalas do sorriso, graça indizível
e na corola do olhar a cura da insônia,
que assaltava minhas longas madrugadas.
A ambrosia dos seus beijos voluptuosos
aqueceria meu corpo nas noites geladas
e destes instantes sobremodo gostosos
alimentaria minhas melhores lembranças.

As cores do amor habitariam minha alma
nuanças da paixão matizariam minhas andanças
por mares da vida onde somente a calma
singraria comigo. Nunca dantes navegados
estes mares seriam a morada do celeste azul
e todos os sofrimentos, agora silenciados
desceriam na enxurrada de meu Itapícurú.
Mas a misteriosa tapuia sempre desaparece
deixando o aedo com os lençóis da frialdade.
O sol da esperança de tê-la, pálido fenece.
O canto sem a musa, perece na orfandade.

A BAILARINA ITAPECURUENSE

A minha filha Cybelle Fonseca.

Dançar é falar com Deus através dos movimentos
do corpo. Quem dança, os males sem saber espanta.
Dançar é reinventar a leveza dos ventos.
Quem dança, as próprias dores, sem saber, acalanta.
A bailarina itapecuruense evola sua prece
quando rodopia nos palcos da vida.

Não podendo dançar eternamente, se entristece
não quer jamais envelhecer, ser sempre aplaudida.
Recolhe-se em seu íntimo, quanta solidão!
sua fada madrinha compadecida aparecendo lhe diz
- Faça um só pedido e voltar atrás não pode não
- Peço ad infinitum dançar, assim eu sempre quis,
mas me mantenhas jovem e bela como agora sou
- Que assim seja - disse a fada -se é isso que mais queres!
A bailarina em nova Cinderela se transfigurou.
Valsando entre musas, acima de todas as mulheres
o convívio no Parnaso com as musas, todavia,
com o transcurso do tempo foi se desgastando.

Todas as danças do cosmos dançado já havia.
A bailarina que no íntimo estava se cansando,
daria tudo para voltar a ser mortal!
Daria tudo para rever sua família e amigos!
Banhar no Rio Itapicurú, brincar no quintal
e sacudir a poeira dos brinquedos esquecidos...

A fada aparecendo-lhe, devolveu sua vida natural.
Entretanto, tudo havia mudado, o Rio Itapicurú
agora era um caminho de boiada, nada igual
havia, até o céu era cinza, fenecido todo azul
nada restara, que não fosse o vento sombrio
que dantes afagava a dançarina que ensaiava.
Só a presença da solidão preenchia o vazio
e o nada dessa paisagem se alimentava.

A bailarina itapecuruense arrependeu-se de pedir
a eternidade. Recolheu-se ao silêncio humildemente
e a melancólica canção do vento começara a ouvir
bailando decrépita, já encurvada e sem dentes.
A bailarina desabou onde as águas caminhavam
Já com a vista turva, sua fada madrinha identificou.
A fada cantou a canção de que mais gostavam
e bailaram pelo cosmos que o acaso musicou.

OS VAGÕES DA EXISTÊNCIA DE ALLISON RILKTT

“Ser poeta é duro e dura e consome toda uma existência”, com estas palavras o grande poeta e ensaísta maranhense Nauro Machado caracterizou o ofício daqueles que foram estigmatizados pelo chamado das musas, todavia nem todo aedo cultiva a lira de seu canto órfico como se a mesma encerrasse o infortúnio de uma maldição pretérita a irmanar através do tempo uma família espiritual de artistas malditos que comungam do mesmo pão amargo do sortilégio.

Alguns privilegiados recebem sua investidura de ser poeta e exercem seu ofício com a leveza e a alegria inerentes aos homens simples de espírito, desta família espiritual faz parte o poeta, ator e teatrólogo Alison Rilktt, cultor da arte de Shakespeare desde os quatorze anos e que vem através da Cia. ARTI à maneira de Mariana Luz nos primeiros decênios do século passado perenizando o teatro nas plagas itepecuruenses.

A multiplicidade de elementos que constituem o eu-lírico e a mundividência de Alison se manifestam de forma translúcida em seu volume de versos Vagões de Lumes - Nos trilhos do rio (Produção Independente) trazido à lume em 2007, nele o artista que define sua embriogênese existencial como sendo ‘ do caminho de pedras miúdas e do útero teatral’, explora a metáfora do rio enquanto trilho mas a idéia do caminheiro da existência celebrizada por Nietszche em seu célebre texto O Andarilho e sua sombra, não evoca em Alison a solidão e o abandono mas o pertencimento da vida ao reino da esperança, como conclui no poema que nomeia a obra.

Que a esperança não seja a última que morre,

Mas que seja a primeira a nascer.

Que as flores exalem seus perfumes,

que nos trilhos do rio, possamos percorrer,

olhando pelas janelas dos vagões de lumes.

A dimensão telúrica se manifesta em poemas como ‘Meu lugar, meu túmulo!’, onde inspirado na canção do exílio de Gonçalves Dias, o artista evocando elementos de nossa flora “ No meu lugar tem juçareiras/ formando os juçarais,/ tem as imensas palmeiras/ de babaçu, seus cocais...” declara em um amplexo de reconhecimento ao ventre no qual foi gerado, sua predileção por um leito derradeiro que preencha a geografia sentimental da tradição poética que trafega em suas veias é antes a denuncia singela de uma paixão legítima por Itapecuru-Mirim que uma declaração de amor provinciano onde a hipocrisia transparece desnudada em sua vacuidade.

“ Se distante eu estiver quando me abraçar a morte,

rogo a Deus para ser plantado sob as raízes do babaçu,

pois que meu destino faça da minha sorte

morrer em Itapecuru!”

O patrimônio arquitetônico singular da Casa de Cultura é evocado em seu “Soneto ao Casarão”, os vultos provincianos que blasonam as páginas de nossa história são ressucitados pela lira que declama, “De noite e de dia/ vai o velho João, vem a luz Mariana/Que não é a luz de mãe Maria, / É da poetisa, da ‘cigarra’ de alma humana”.

Depreende-se da leitura de Vagões de Lumes que Alison Rilktt é um versejador de forte lirismo telúrico que canta sua terra com alegria sem jamais ceder à nostalgia merencória, canta o amor com um erotismo tênue em poemas como “Soneto de Amor” e “Meu bem, minha flor”, religioso convicto dos propósitos divinos, acaba por declarar uma razão superior para nossa passagem por esta existência, “Não somos do céu almas banidas/ há um motivo para estar existindo”.

A despeito da variedade temática e da expressividade inerente a sua produção poética não existe nada consumado em termos de amadurecimento estético, o poeta caminha sabedor das pedras que habitam o caminho que conduz ao domínio da técnica, consciente de que ser senhor de sua arte, de seu engenho e das formas do poema é uma odisséia onde as zonas limítrofes entre a glória e o fracasso são estabelecidas por uma linha tênue, não obstante é comprometido com as coisas do espírito que o artista sensível ao belo e ao sublime vai forjando a tessitura singela dos vagões de sua existência.