Pelas estígicas praias do Lete, eu navegava.
Caronte o barqueiro espreitava meu silencio.
Compenetrado eu refletia sobre o rio que vi fenecer
Plutão me aguardava no reino dos mortos.
Eu rezava a Fobos que aplacasse meu medo
mas o pensamento não abandonava o rio morto.
[Despedaçado sem o viço de outrora
o rio verteu-se em cinzas, pólen de poluentes.
Cardumes que um dia foram corola
agora habitam o ossuário de afluentes.
Limbaram rio, vosso pescoço com um nó letal
degolaram cidade, vosso trunfo natural.
No cadafalso dos dias, teus filhos foram os verdugos
de vossa sangria paulatina, vil execução pública.
Choro por ti rio, porque vossa face translúcida
reinventava nereidas em minha lira pânica.
Choro por ti rio, porque vossa órbita fantástica
despia sereias virgens em minha canção agônica.]
Perguntou-me Caronte de meu agônico semblante
inquirindo dos motivos de tamanha amargura
meu silêncio falou-lhe de um rio devastado.
Rio Itapecuru em cujas margens sonhei
quixotescos sonhos de um infante imaginoso.
Rio Itapecuru em cujas margens enamorei
as sereias-meninas em pretéritos romances.
Avisto Cerberus às portas da casa dos mortos
Tentarei conquistar as curvas de Eurídice
mesmo não sendo Orpheu cortejarei a musa.
Mas quando minha lira executar sua ária derradeira
É no rio fenecido que minhas rimas sangrarão
as fúnebres rosas de um desfecho triste.
Se o meu alaúde não agradar a sublime musa
sepultarei por fim minha alma no Hades
próximo ao cemitério do Lete, onde dentre rios mortos
o ossuário de meu Itapecuru dormita pela eternidade.
terça-feira, 13 de abril de 2010
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