terça-feira, 13 de abril de 2010

O OSSUÁRIO DA CULTURA ITAPECURUENSE

Um dos mais deprimentes quadros da vida cultural itapecuruense é o vergonhoso descaso das sucessivas gestões públicas municipais para com um dos mais importantes patrimônios históricos e arquitetônicos de Itapecuru – Mirim, a Casa da Cultura Profº João Silveira, cuja degradação paulatina e depredação silenciosa vem reduzindo-a a um cemitério de ossos secos e ao contrário de um projeto museológico que a modernizasse, o Ossuário da Cultura Itapecuruense constitui a maior vítima dos torturadores que insensíveis às coisas do espírito vergastam com o descaso e a indiferença esse prédio em particular e a cultura da terra de Gomes de Sousa de modo geral.

Mais revoltante que a depredação em si é ver a Escola de Música Joaquim Araújo sucateada no estertor da agonia derradeira, espremida em uma sala entre o mofo de livros de partitura corroídos pelas traças e a ferrugem dos velhos instrumentos. Perguntar onde se encontram as centenas de obras literárias que compunham uma rica biblioteca que o Ossuário da Cultura abrigava é uma interrogação vã, decerto não haverá de ser respondida, assim como o paradeiro das porcelanas e outros utensílios subtraídos...

...Se pela vil mão do peculato ou pela irresponsabilidade de seus gestores no transcurso dos últimos anos, saberá Deus ou o Diabo, o certo é que a cadeia velha onde o Negro Cosme esteve preso, não viu nos últimos anos por ocasião do Dia da Consciência Negra uma única manifestação relevante que envolvesse os afrodescendentes, sobretudo, das comunidades remanescentes de quilombos. É uma desgraça! Uma lástima! Como vem a ser as condições da Biblioteca Pública Municipal Benedito Bógea Buzar que não obstante os pedidos de reforma feitos pelos seus gestores – entre os quais eu fui o último – e de seu patrono ao prefeito municipal está às vésperas de desabar na corcunda dos usuários/funcionários.

Recebeu-se uma modernização do ministério da cultura em parceria com o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas e a mesma constituída por centenas de livros e dez computadores se encontram devidamente encaixados a propósito de que a construção das bancadas que deverão acomodá-los ainda não tiveram sua construção autorizada, correndo o risco iminente de voltar para o Rio de Janeiro, a despeito dos desmedidos esforços do Dr. Benedito Buzar para que Itapecuru – Mirim fosse agraciada com essa modernização. Boa parte do acervo existente fora perdido nos últimos anos pelas chuvas que milagrosamente transformam o prédio que outrora fora conhecido como Bateau Mouche em um barco furado... Alagado pela água que escorre do miserável forro...

Cenários kafkanianos? Não! Absurdos como estes são reais e fazem parte de um inferno de Dante chamado Itapecuru – Mirim cuja etimologia já fora até mudada pela obra e graça de honoráveis cidadãos itapecuruenses titulados por membros da câmara de vereadores e cuja importância para o desenvolvimento de nossa cidade é tão relevante quanto o de quem fizera suas indicações.

E quando se fala em Secretaria de Cultura ainda são aventados nomes cuja irresponsabilidade demonstrada em cargos ocupados se conjuga a incompetência profissional e intelectual, enfim, uma verdadeira desgraça e tal como a recomendação do médico a Manuel Bandeira no poema Pneumotorax, só resta aos verdadeiros artistas e intelectuais da terra “dançar um tango argentino”!

Queira Deus sendo brasileiro e, por conseguinte amigo dileto de Mariana Luz por intercessão de Nossa Senhora das Dores iluminar estas cabeças de coprólitos(fezes petrificadas de animais pré-históricos) pois estamos quase a consolarmo-nos com as maiores obras literárias de um grande poeta babão, a saber os versos de “irretocável beleza”: “Essa não tem mais jeito” e “Agora é taca”!

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