Como um aedo batizado nas águas serenas e voluptuosas do Rio Itapecuru poderia ver a cidade senão como mulher, toda curvas, batom e lingerie? Mulher que insistentemente o persegue por noites de insônia a procura de versos, ainda que pálidos e singelos que traduzam a sensualidade que faz morada em seu jovem corpo, centenário e tentador.
Existe uma particularidade que diferencia essa relação, é que enamorar essa cidade-mulher constitui um desafio que evoca um desprendimento total da paixão da alma que comumente assalta os sentimentos dos apaixonados: O ciúme. Quem deixar-se seduzir pela singularidade mágica das madeixas e curvas desta cidade-mulher, necessita habituar-se a difícil condição de ter que dividi-la com os outros que se deixaram igualmente agasalhar no refrigério e aconchego de seus braços e na ternura de seus abraços.
Viajor infatigável de reinos fantásticos o aedo retorna ao tálamo de Eros para novamente, dentre ósculos de apaixonante luxúria possuir sua musa maior, ainda que sabedor de que ela só será sua, pelos efêmeros instantes em que dela sua sensibilidade artística se ocupar... Deixemo-nos valsar na alameda de nuvens e nenúfares...
A Cidade-Mulher está nua e incrivelmente bela, traz a habitar-lhe a fronte uma coroa de crisântemos e à mão esquerda traz uma taça de vinho colhido das adagas de dionisíaca noite orgiástica. Já estamos inebriados quando os lábios da musa se descerram convidando-nos à consumação profana desse instante sagrado.
Contemplo a cintilação sideral de Julho que desaba trovejando um luar divino que desaparece na noturna voragem das tecelãs do tempo. O útero da Cidade-Mulher processa a fotossíntese de verdum que emoldura a aquarela natural das plagas itapecuruenses. A flora agreste com sua diversidade de pétalas e aromas oferenda em violáceas nuances, um buquê que faria Afrodite enciumada envelhecer com as rugas do fenecimento a todos os jardins do mundo.
Tendo à mão este humilde buquê tecido de sonhos, venho às margens do rio que te nomeia, felicitar-te Cidade-Mulher pelo advento de uma primavera mais florida. Traduzir de forma definitiva os sentimentos em relação a ti que meu coração acalanta, seria mentir publicamente, prefiro tanger a lira do talento que Deus ainda no materno ventre concedeu-me.
Concedeu-me imerecidamente, para cantar o teu povo religioso e mundano (apolíneo e dionisíaco); teu rio mágico e assoreado e tua história de Gomes de Sousa e Pãozinho, daqueles que em logradouros e outras póstumas homenagens são incrivelmente lembrados e dos que por ‘ilustres familiares’ foram injustamente esquecidos (Apolinário Fonseca, meu avô, Primeiro Sargento-Músico do Exército Brasileiro, Clarinetista de rara erudição musical).
Enxergo Itapecuru-Mirim para além de suas mazelas sociais e de seus provincianismos. Vejo-lhe mulher para de seus aspectos positivos nunca me afastar; vejo-lhe mulher para que no transcurso de cada aniversário possa ser-lhe mais fiel e apaixonadamente leal; Vejo-lhe mulher para que nesta primavera natalícia possa germinar a flor do desejo e ternura que cultivo como diria Carlos Drummond de Andrade, “Até desabrochar em puro grito/ de orgasmo num instante de infinito”. Parabéns Cidade-Mulher!
terça-feira, 13 de abril de 2010
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