MANDACARU
Áspero apetrecho da flora agreste
espinheiro que corteja o calcanhar do eremita.
Os profetas apocalípticos do Nordeste
recorreram a vós quando a secura era vertida.
Aos rebanhos esquálidos a ressurreição deste
quando feneciam nas gélidas pastagens carcomidas.
Em teu verde se traduzem nossa secura e peste
em teu metal traduz-se a abundância preterida.
Notivagueiam mariposas pelo teu caule cálice
a seiva da esperança em líquido é derramada
enquanto a ação de graças bovina chega ao ápice
A Canaã de ossos secos é por vós ornamentada.
Se nos chaga a carnadura o epidermóide carcinoma
os estigmas de Louro Febo te são non grata persona.
A FLOR DEFINITIVA
Flor definitiva do apocalipse anunciado
plúmbea tradução da ascese nuclear.
Oscula teu pedúnculo o urânio derramado
nesse androceu venal a cochonilha vêm gozar.
O metal da carnadura sob o concreto das nuvens
gineceu carcomido e sifilíticas sépalas.
Cálice da embriagues do outrora homo ludens
o heptacórdio do aedo ignora tuas pétalas.
Ornamento vindouro do álamo carbonizado.
Ensinai aos crisântemos a cor do pentecostes
aos girassóis o plutônio do khárisma anunciado
Preparai esses jardins narcísicos para a morte.
De que vale a virginal corola da rosa de Sarom
quando em vós revela-se a face do novo daimón?
O AUTO-ENGANO DA FLOR
Desabrocha a aurora, raios de luz espalhados
enquanto o aroma das manhãs perfuma os vinhedos
dançam borboletas em movimentos espiralados
o bosque orvalhado cantarola um canto ledo.
Vede a solitária flor de pétalas desbotadas
ela finge embebedar-se sorvendo o langor
colibris lhe evitam o pólen maculado
o cinza cemiterial constitui sua nova cor.
A flor no entanto ama a dois aedos
o sol que em fotossíntese lhe oscula
a lua com seu formato de queijo.
E se fingindo estar enferma muda sua textura
a flor que somente evita dos colibris o tálamo
ignora que os aedos enamoram todo o álamo.
terça-feira, 13 de abril de 2010
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