Como se não bastassem as intempéries da existência, que desconsiderando a fragilidade humana nos lança contra as correntezas da angústia, correntezas que nos fazem caminhar sôfregos para o suspiro derradeiro; como se não bastasse o turbilhão de lágrimas que sucede as vergastadas do tempo; como se não bastasse toda a miseranda dor que passou a parasitar meu ser, fui surpreendido pelo absurdo mais histérico que o caos pode gestar e o surreal parir!
Eu caminhava incerto do chão abaixo de meus pés... Caminhava por caminhar, não caminhava meu espírito que se emaranhava no algodão de nuvens caminheiras, meu andar trôpego e mecânico fazia aqueles que me observavam passar, acreditar que estavam diante de um autômato, todavia, algo se movia convulsivamente dentro de mim! Algo hermético se descortinava, enquanto o meu espírito desnudo masturbava-se com a ilusão de algo grandioso que se avizinhava, apeguei-me às réstias de luz, irmanei-me aos grãos de esperança que habitavam as sarjetas dos sonhos natimortos.
O gosto amargo de um absinto exótico germinou em saliva, enquanto o hálito revestiu-se de fel, parturiente de um ser obscuro, meu esôfago exasperava-se querendo abortar o corpo inconsútil que pedia passagem. A BOCA! - Depositária do pedaço de carne que é perdição para todo o corpo - descerrando os portais dos lábios e as muralhas dos dentes, obstruiu o advento do nascituro que violentamente começou a desferir golpes de vocábulos sem nexo, contra a dentição que já sem o alvo esmalte que encerra sua beleza, começou a ruir... De repente como nas explosões inesperadas de um homem bomba, a muralha dos dentes desmoronou, sob os escombros da língua já prostituída pela sedução do nascituro que deflorou sua timidez e retraimento.
Restou a última barreira, os lábios, róseas bordas que emolduram a expressão sublime do sorriso, lábios que diuturnamente cortejavam tocar outros lábios revestidos de batom; batom que faz crer que o Diabo veste Prada e lingerie. Não sei se por telepatia a nascituro seduzia aquela musa que - Após olhares, onde o verde dos meus olhos e o castanho dos seus se envolveram - aproximando-se, beijou-me... Nuvens e nenúfares... Alegria e gozo...
Como se nos contos de fadas de repente eu fosse Cinderela, furtada de seus trajes à meia-noite, a musa me foi furtada em um átimo de segundo mágico, desapareceu sem deixar rastros que não fossem as lembranças daquele instante fantástico e maravilhoso...
Eu estava sozinho no escuro de uma madrugada de insônia. A Dama Angústia que por repetidas noites fazia-me companhia, exortou-me de ser um péssimo pai, que ignorava a existência do próprio filho que choramingava por atenção e elogio, voltei o meu melancólico olhar para as mãos que seguravam o mais perfeito rebento que a solidão criativa pode conceber! Filho de meu espírito e da misteriosa musa - O POEMA!
terça-feira, 13 de abril de 2010
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